Viajando com Alexandre e Anazar – parte 2/3 – Leste Europeu

DESTINOS

“Em continuação ao nosso relato anterior (se não viu, clique aqui), após passarmos 3 meses no Espaço de Schengen, em meados de novembro de 2019 partimos em direção ao Leste Europeu, onde visitamos a Bielorrússia, Ucrânia, Rússia e Turquia e, posteriormente, a região do Cáucaso (que inclui Azerbaijão, Geórgia e Armênia) e este trecho da viagem perdurou até final de dezembro de 2019 (em média, ficamos 5 dias em cada país).

De uma maneira geral, para Armênia, Geórgia e Azerbaijão 5 dias foram suficientes para poder conhecer e explorar os principais pontos de suas capitais: Yerevan, Tbilisi e Baku, respectivamente.

Porém, para os outros destinos, especialmente a Turquia e a Rússia, poderíamos ter ficado um tempo a mais, devido ao riquíssimo patrimônio histórico e cultural dessas nações milenares e infinidade de coisas parar ver e se fazer em suas capitais e principais metrópoles.

Centro Cultural Heydar Aliyev, em Baku, Azerbaijão.

 

Um ponto importante de mencionar sobre a Bielorrússia, é o fato de que, por ainda estar em um processo de abertura ao ocidente, turistas brasileiros só podem permanecer no país, sem necessidade de visto, por um período de 5 dias. Mas já é melhor que nada, não é mesmo? Pelo menos possibilita explorar um pouquinho desse território repleto de história, castelos e pessoas acolhedoras.

PESSOAS E IDIOMAS

Como já mencionamos na parte 1, por toda a viagem conhecemos diversos outros viajantes e nativos, inclusive por intermédio do aplicativo Couchsurfing (espécie de rede social para viajantes e mochileiros, que permite, além de buscar acomodações ao redor do mundo, se conectar diretamente com a cultura e moradores locais). Esse aplicativo funciona muito bem no Leste Europeu, tanto que o utilizamos em quase todas as cidades e países por onde passamos e todos os anfitriões foram muito receptivos. O único lugar que não nos hospedamos pelo Couchsurfing foi em Moscou (optamos fazer a locação de um espaço pela plataforma Airbnb, que funciona bem e também pelo seu ótimo custo-benefício).

 Apesar de não falarmos os idiomas locais do leste europeu, de maneira geral conseguimos nos virar bem com o inglês e francês (exceto pelo que relataremos abaixo). Nesta parte da viagem, a única vez que necessitamos de guia foi para poder visitar a cidade de Pripyat e ir até Chernobyl, que está localizado na divisa da Bielorrússia com a Ucrânia. Para isso, contratamos o tour de 1 dia com a companhia ChernobylTRAVEL, através do aplicativo GetYourGuide. Pelo custo de €89,00 por pessoa, partiu de Kiev de manhã bem cedo e retornou ao final do dia, e no valor estava incluso o transporte, a alimentação, o guia fluente em inglês, seguros e permissão para fotografar.

Parque de diversões de Pripyat, nas proximidades de Chernobyl.

Bem, em princípio, pensávamos que, ao menos nas capitais, não teríamos tantos problemas com a comunicação. Só que, para nossa surpresa (em destaque para Moscou, capital da Rússia, que em 2018 sediou a copa do mundo), tivemos dificuldade em encontrar pessoas que falavam inglês tanto nas ruas quanto nas lojas, semelhante a realidade do Brasil. Então tivemos que baixar o tradutor russo para conseguirmos nos virar e, quando não conseguíamos usar o tradutor, nós apenas fazíamos mímicas e felizmente deu tudo certo. Uma experiência e tanto!

Dentre diversas situações cômicas e curiosas que passamos, citaremos duas que foram o ápice: a primeira foi na imigração de Minsk, Bielorrússia, em que a agente de imigração, ao ver nosso passaporte de brasileiros, entrou em desespero ao descobrir que não falávamos russo. Como ainda não tínhamos feito o download do tradutor offline e estávamos sem conexão de internet, ela não estava sabendo como prosseguir com nossa entrada no país. Mas, no final, deu tudo certo e ela fez mímica informando que podíamos ficar apenas 5 dias no país sem visto. Como já tínhamos essa informação por termos pesquisados, entendemos na hora e apenas concordamos com a cabeça e deu tudo certo (fica a dica: pesquise sobre os detalhes importantes antes de viajar).

A segunda foi mais marcante: ainda na Bielorrússia, decidimos ir a Mir, uma cidade próxima a Minsk, que tem um castelo maravilhoso aberto à visitação. Lá fomos em uma pequena igreja que tinha uma senhorinha muito simpática, que falava apenas russo mas queria falar conosco de qualquer jeito mas não estávamos conseguindo compreendê-la, até que ela começou falar o nome de diversos países e notamos que ela estava perguntando de onde éramos e ficou impressionada quando falamos que éramos brasileiros. Depois ela repetiu um nome diversas vezes, apontando para si mesma, e percebemos que ela estava nos dizendo seu nome e perguntando os nossos. Depois ela nos acompanhou pela igreja, nos mostrando detalhes e obras da edificação. Quando nos despedimos, percebemos o quão feliz ela ficou (e nós também!), fazendo daquele dia um dos que mais valeram a pena em nossa viagem.

CLIMA E EXPECTATIVAS

Por ser final do ano, pegamos o início do inverno no hemisfério norte, com temperaturas abaixo de zero. Em Kiev, na Ucrânia, por exemplo, experenciamos -6°C. Um frio surreal que, por mais que estivéssemos agasalhados com blusas e casacos apropriados para o inverno, dava para sentir o frio penetrando ao caminhar na rua, com o sol de serventia apenas para iluminar o dia, pois não esquenta nada.

Temperatura de -6º C na Ucrânia.

Uma das maiores expectativas antes da viagem era ter um “White Christmas” e foi exatamente por esse motivo que escolhemos Moscou para passar o período do natal, pois a Rússia tem fama de ser o país que mais neva neste período do ano. Porém, chegando lá em pleno dia 24 de dezembro, nos decepcionamos ao ver que não estava nevando, inclusive não nevou nenhum dos dias que passamos lá, e também não fez tanto frio quanto imaginávamos que faria. Estávamos com a expectativa de um frio abaixo de zero, mas estava relativamente “calor” com temperaturas que variaram entre 8º e 12º Celsius. Porém a decoração de natal na Praça Vermelha e arredores estava fantástica e, por ela, tudo valeu a pena no final.

Praça Vermelha, em Moscou.

POBREZA, CICATRIZES E PREÇOS

Outra coisa que nos surpreendeu bastante foi a extrema pobreza que vimos na Armênia. Em princípio, foi um dos únicos países que não fizemos muitas pesquisas antes de irmos; logo, não sabíamos o que encontraríamos lá. A única coisa que sabíamos era do conflito de Nagorno-Karabakh (conflito histórico da Armênia com o Azerbaijão). Infelizmente, em Yerevan encontrarmos bastante miséria e construções em estado precário (mesmo no centro da cidade). O Monte Ararat (citado na bíblia como o monte que a Arca de Noé parou após o dilúvio) é um dos únicos pontos que torna a cidade mais bonita e ele pode ser avistado de diversos pontos da cidade.

Visitar países como esses é como entrar numa máquina do tempo. Pudemos ver as marcas que a História e antiga União Soviética deixaram, tanto na arquitetura e nos monumentos, quanto no comportamento das pessoas.

Por ser fora da zona do euro, pudemos extravasar um pouco mais (fazer mais com menos). Por exemplo: fomos assistir uma apresentação de Ballet no Teatro Bolshoi, na Bielorrússia, por apenas 6 rublos bielorrussos (cerca de 12 reais) e experimentamos comidas típicas, como um maravilhoso Draniki, por 7 rublos bielorrussos (cerca de 14 reais).

 COMIDAS E BEBIDAS

No geral gostamos muito de provar as comidas típicas dos países. Difícil escolher uma favorita mas as melhores foram em Kiev, na Ucrânia, que tem uma rede de fast food chamada Puzata Hata, onde você encontra comida típica ucraniana com um preço muito acessível e com diversas opções. Provamos o Pelmeni (que é como se fosse capeletti mas, em vez de cozido e com molho, eles comem frito e com o tradicional molho sour cream) além do Borsh, outro prato magnifico deles, que se trata de uma sopa de beterraba, também com sour cream e bastante cebolinha. Para quem ama doces e chocolates recomendamos, em Kiev, a chocolataria Roshen, onde é possível encontrar diversos tipos de chocolate, todos de ótima qualidade com um valor super acessível.

Baklava e café turco na cafeteria Hafiz Mustafa em Istambul, Turquia.

Outra culinária que nos encantou foi a turca. Em Istambul, experimentamos diversos pratos e bebidas tradicionais por valores bem acessíveis, como o tradicional chá preto turco, muito saboroso e que nem precisa de açúcar, tendo um sabor bem suave; o café turco, feito no cezve (um recipiente de alumínio que é colocado na areia quente), e ao qual são colocadas diversas especiarias como o cardamomo, cravo, canela, resultando em uma bebida bastante forte e que pode não agradar a todos os paladares, mas nós amamos e sempre que podíamos tomávamos um.

Provamos também Halva, um doce feito a partir do oléo de gergelim, que tem um gosto relativamente forte, mas muito gostoso. Porém, o troféu de melhor quitute que experimentamos vai, sem dúvidas, para o Baklava, que provamos na rede de cafeteria Hafiz Mustafa (presente em diversos pontos na cidade), e se trata de um doce feito com pistache triturado envolto da massa mil folhas e muito mel. Parece ser melado e enjoativo, mas não é: depois que você prova um, quer comer disparadamente um atrás do outro.

Em Baku, no Azerbaijão comemos, de colher, muitas romãs deliciosas. Vimos, pela primeira vez, a fruta marmelo (da qual é feita a famosa marmelada), e tivemos o prazer de fazer uma geleia com ela, que ficou com um sabor estupendo. Além disso, provamos Doghramaj, que é um iogurte com ervas frescas que eles tomam em qualquer horário do dia. Experimentamos, também, várias castanhas assadas, facilmente encontradas com vendedores de rua, com sabor que se assemelha a pinhão. Uma delícia!

Romãs no Parque Heydar Aliev em Baku, Azerbaijão.

Por último, mas não menos importante, em Moscou, na Rússia, provamos a bebida típica mais conhecida no mundo: a famosa vodka russa, que é de fato bem forte, e que dizem ser assim para ajudar a suportar o frio extremo de lá rs. Um fato interessante é que, muitas vezes, ao chegar na casa de alguém, você sempre será recepcionado com uma dose de vodka acompanhada de um caloroso “Nasdrovia”, que significa saúde, em russo.

TRANSPORTE

A maior parte do trajeto fizemos de ônibus e trem, e por não encontramos muita informação na internet, preferimos comprar os tickets nos terminais rodoviários e ferroviários.

As únicas companhias aéreas que usamos nessa viagem do leste europeu foram a AirFrance, de Kiev para Istambul, e a S7 Airlines, de Yerevan para Moscou. A Airfrance não recomendamos, pela falta de cuidado com a bagagem despachada, além de uma enorme burocracia para o ressarcimento, em caso de danos. Já a S7 Airlines achamos justo pelo preço que pagamos. Por ser uma companhia low cost, é no mesmo padrão que a Ryanair e EasyJet.

CURIOSIDADES E DICAS

Tanto na ida para a Bielorrússia, como para o Azerbaijão, fomos de ônibus e acabamos virando a atração da viagem por sermos os únicos passageiros estrangeiros, e foi aí já percebemos que esses dois países não seriam como os outros destinos (o que foi incrível!)

Uma dica importantíssima é: leve pouca bagagem, especialmente se for fazer um “mochilão”, pois raramente encontrará elevadores, além de nesses lugares ter inúmeras ruas de paralelepípedo como obstáculos, o que torna praticamente inviável andar cheio de bagagem nas ruas (se soubéssemos disso antes, teríamos evitado 90% dos perrengues que passamos).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se você me perguntasse se eu gostaria de voltar a todos esses lugares, minha resposta seria NÃO para Tblissi, a capital da Georgia. Por mais que eles estejam em uma luta para serem reconhecidos como parte da União Europeia, grande parte da população ainda possui uma mentalidade muito fechada, com pensamentos machistas e homofóbicos. Infelizmente tivemos o infortúnio de presenciar um caso de homofobia sério e violento. Estávamos em um bar com a bandeira LGBTQ friendly, quando chegou um grupo de amigos e começou a discutir dentro do recinto. Posteriormente, agrediram um garoto bissexual só pelo fato dele ficar com pessoas do mesmo sexo. Em seguida, foram para cima da amiga dele, com ataques físicos e xenofóbicos, só porque  ela estava tentando defendê-lo e também por ser estrangeira. A polícia foi acionada mas, no momento, nada foi feito. Então percebemos que havia uma certa conivência da polícia, que fez “vistas grossas”  em favor dos agressores.

Agora, para Istambul e Moscou, a resposta é SIM, COM CERTEZA! O tempo que passamos lá parece não ter sido suficiente para desbravarmos e sentirmos ao máximo as cidades. Ambas são lindas e têm muito a oferecer… sem dúvidas gostaríamos de ter passado muito mais tempo nelas. Sem contar que as pessoas que conhecemos de ambos os países foram muito acolhedoras e fizeram de tudo para que nos sentíssemos bem e confortáveis.

Mesquita Azul, em Istambul.

Conforme já relatamos na parte 1, em razão dessa viagem criamos um canal no YouTube chamado AA AWAY, aonde registramos, em vídeo, toda essa incrível experiência. Passe lá para conhecer.

Por fim, se você tem o sonho de viajar para fora, seja para qual país for, ou se tem o sonho de fazer um “mochilão”, e acha que é impossível ou que é muito caro, nós somos a prova viva que é possível sim! Com um planejamento antecipado, não tem erro. Basta acreditar que dará certo!”

Alexandre e Anazar

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